quarta-feira, 27 de maio de 2015

2- A Peste Negra

Peste negra é a designação pela qual ficou conhecida, durante a Idade Média, a pandemia* de peste bubónica que assolou a Europa durante o século XIV e dizimou entre 25 e 75 milhões de pessoas (este número representa um terço da população da época).

*pandemia
(grego pandemía, -as, o povo inteiro)
s. f. Surto de uma doença com distribuição geográfica muito alargada.

Trazida do Oriente, teve o seu primeiro porto de entrada em Messina, na Itália, através dos barcos de comércio.

O portador da doença terá sido a pulga do rato preto, originário da Ásia.
As pessoas infectadas (por picada ou por via oral) manifestavam sintomas invulgares que começavam por pequenas manchas negras à volta de cada picada de pulga, gânglios inflamados no pescoço, nas axilas e nas virilhas, febres altas, calafrios e enjoos.
A progressão da doença era de tal ordem que, num ou, no máximo, em dois ou três dias, o doente morria.

Uma das maiores dificuldades era dar sepultura aos mortos: 
“Para dar sepultura à grande quantidade de corpos já não era suficiente a terra sagrada junto às Igrejas; por isso passaram-se a edificar igrejas nos cemitérios; punham-se nessas Igrejas, às centenas, os cadáveres que iam chegando; e eles eram empilhados como as mercadorias nos navios".

Em Avignon, na França, vivia Guy de Chauliac, o mais famoso cirurgião dessa época. Ele sobreviveu à peste e deixou o seguinte relato:
“ A doença era tão contagiosa que se propagava rapidamente de uma pessoa a outra;
o pai não ia ver seu filho nem o filho a seu pai; a caridade desaparecera por completo".
E continua:
“Não se sabia qual a causa desta grande mortandade. Em alguns lugares pensava-se que os judeus haviam envenenado o mundo e por isso os mataram”.

“No ano do Senhor de 1349 (…) Os vivos mal chegavam para enterrar os mortos (…)
Mas, coisa temerosa de ouvir, os cães, os gatos, os galos e as galinhas e todos os animais domésticos sofriam a mesma sorte. (…)
A este mal acrescentou-se outro: correu o rumor que certos criminosos, particularmente judeus, deitavam nos rios e nas fontes venenos que faziam engrossar a peste.
Por isso, tanto cristãos como judeus inocentes foram queimados, mortos, quando é certo que tudo aquilo provinha da constelação ou de vingança divina.”

Papa Clemente VI, Prima Vita

“Digamos antes de mais que a causa longínqua e primeira deste peste foi e é ainda alguma constelação celeste (…) a qual conjunção dos astros, com outras conjunções e eclipses, causa real da corrupção mortífera do ar que nos rodeia, pressagia a mortalidade e a fome.
Não podemos deixar de dizer que, quando a epidemia procede da vontade divina, não temos outro conselho a dar que o de recorrer humildemente a essa vontade, sem desprezar contudo as prescrições do médico.”

Opinião emitida na época pela Faculdade de Paris

Outras reacções irracionais foram as manifestações de expiação que se multiplicaram um pouco por todo o lado.
Em 1349, pelo São Miguel, mais de 600 homens vieram da Flandres a Londres (…) onde se mostravam solenemente duas vezes por dia, vestidos somente da cintura aos tornozelos (…).
Cada um tinha na mão direita um chicote com 3 pontas e, em cada uma delas, um nó com pregos aguçados. Marchavam em fila e batiam os seus  corpos nus e em sangue (…).”

R. d’Avesbury, Vida de Eduardo III

Os médicos e os farmacêuticos desconheciam as causas da doença e não sabiam como tratá-la.
Julgavam que se estivessem totalmente vestidos, com luvas, botas e uma máscara, semelhante à cabeça de uma ave, estariam imunes.

Prevenção
Evitar o contacto com roedores e erradicá-los das áreas de habitação é a única protecção eficaz. O vinagre foi utilizado na Idade Média, já que as pulgas e as ratazanas evitam o seu cheiro.
A peste é de comunicação obrigatória às autoridades.

Tratamento
Os antibióticos revolucionaram o tratamento da peste, tornando-a de agente da morte quase certa em doença facilmente controlável.


A Europa só viria a recuperar desta depressão no início do século XV devido ao maior dinamismo produtivo da Itália e da Flandres e, posteriormente, à abertura marítimo-comercial feita por portugueses e espanhóis. 

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